Abaixo anotações de Marc Vanden Bussche (do facebook), sobre o texto de Leonardo Melgarejo sobre transgênicos
[Leonardo Melgarejo, membro da CTNBio, recentemente fez um relatorio detalhado criticando a liberacao de transgenicos no pais.
Abaixo as partes mais interessantes do texto dele:
Na prática, as vantagens das PGMs vêm se mostrando frágeis ou mesmo enganosas nos EUA, na Argentina e no Canadá. Naturalmente, a situação se repete no Brasil.
O argumento de que a fome do mundo será superada pelos ganhos de
produtividade oferecidos pela engenharia genética permanece como uma
promessa não realizada. Nesses 20 anos de desenvolvimento dos
transgênicos, a quase totalidade das PGMs envolve tecnologias BT e HT
não são desenvolvidas para obter ganhos de produtividade.
A
utilização massiva de herbicidas com o mesmo princípio ativo está
provocando o surgimento e a expansão no número de plantas espontâneas
tolerantes. Esta situação exige novas aplicações de agrotóxicos e
aplicações de outros herbicidas. Como os grãos GM caem nas lavouras
durante a colheita, o próprio Milho GM se torna inço para cultivos
posteriores na mesma área de lavouras de soja e algodão. Isto acaba
exigindo aplicações adicionais de herbicidas de folha estreita.
O mesmo ocorre com a soja (exigindo aplicação de herbicidas de folhas
largas nas lavouras de milho). Em sucessão de lavouras envolvendo
cultivos de algodão e soja, essa solução não é viável. Para resolver
este problema, a solução é arrancar manualmente as plantas indesejáveis
ou apressar a liberação de novas plantas geneticamente modificadas. Como
as empresas tendem a dar preferência a essa segunda opção, já existem
variedades de milho e soja com gene de tolerância ao herbicida 2,4-D sob
avaliação pela CTNBio. A nova geração de PGMs trará aplicações massivas
do 2,4D-- herbicida extremamente tóxico.
O crescimento do
número de lagartas resistentes que não morrem comendo o milho e o
algodão Bt, o surgimento de novas pragas e a ampliação no número de
insetos que eram pragas de pequena importância e que agora causam danos
sérios, apontam no sentido de redução na eficácia desta tecnologia.
Existem registros importantes de migração de pragas do milho para outras
culturas e vice-versa. Lagartas, percevejos e pulgões causando danos
sem precedentes no milho, soja e algodão e o surgimento de pragas, que
não eram registradas no Brasil (caso da Helicoverpa armigera), vem
exigindo novas e maiores aplicações de inseticidas.
Recentemente, o governo autorizou importação e aplicação do benzoato de
emamectina-- produto que a ANVISA condena por ser neurotóxico. O MAPA
quer que as secretarias estaduais se responsabilizem pela aplicação. Até
agora, apenas a Bahia, onde os prejuízos nesta safra superaram os R$ 1
bilhão, parece disposta a assumir essa responsabilidade. Também neste
caso, se esse produto for aplicado por avião, alguns problemas poderão
aparecer futuramente-- inclusive em crianças que ainda não nasceram.
Além dos elementos discutidos anteriormente, cabe considerar a condição
de ilegalidade que envolve todas as PGMs comercializadas no Brasil.
Esta ilegalidade associa-se ao descumprimento das normas legais.
Fundamentalmente, cabe dizer que nenhum dos processos até aqui aprovados
pela CTNBio incorpora estudos exigidos pela norma legal.
O
Arroz GM – Deve voltar em breve à pauta da CTNBio. Não foi aprovado
porque a empresa, atendendo a pressões dos orizicultores brasileiros
retirou o pedido de Liberação Comercial. Independente dos argumentos
técnicos, a decisão se deu a partir de questões comerciais. O mercado
europeu rejeita o arroz transgênico e a impossibilidade de segregação no
Brasil comprometeria exportações. O processo aguarda que para evitar
riscos de desabastecimento, a União Europeia admita consumir Arroz GM.
O Feijão GM – Aprovado com base em estudos insuficientes com destaque
para aspectos nutricionais. Foram avaliados 10 ratos que comeram ração
com feijão GM durante algumas semanas. Conforme revelado pelo parecer
divergente, foram dissecados apenas três ratos. Nestes, foram
identificados problemas que deveriam exigir novos estudos, mas que foram
assumidos como irrelevantes.
As Vacinas GM – Não dispomos nenhuma espécie de monitoramento; não sabemos o que está acontecendo.
Os Mosquitos MG – Existem testes a campo, em bairros de cidades do
nordeste. Pouco se sabe a respeito do desenvolvimento destes testes.
O consumo pode estar causando problemas para a saúde pelos seguintes motivos:
- Nas PGMs tecnologia BT existem resíduos de herbicidas em volumes
desconhecidos – todos os testes apresentados na CTNBio foram realizados
envolvendo a ingestão de grãos que não receberam banhos dos agrotóxicos
que justificaram sua criação;
- Os impactos de longo prazo não
são avaliados. Todos os testes apresentados para avaliação da CTNBio
examinam reações de curto prazo. Os mais longos são de 90 dias-- não
permitindo identificar danos cumulativos;
- Os testes de
intoxicação aguda, envolvendo proteínas associadas aos transgenes, não
são realizados com as proteínas existentes nas plantas. Os testes são
realizados com proteínas “quase iguais” extraídas das bactérias e não
com as proteínas transgênicas produzidas nas PGMs em função da
modificação genética. As duas proteínas (das PGMs e das Bactérias)
possuem a mesma sequência de aminoácidos, mas possuem propriedades
diferentes. No caso Bt, enquanto na bactéria a proteína só se torna
ativa no intestino dos insetos, a do milho é tóxica o tempo todo, em
todas as partes da planta.
As plantas com a proteína Bt apresentam diferenças em relação às Plantas Não Modificadas:
- Estudos independentes apontam maior teor de lignina nas PGMs. Por
isso, elas levariam mais tempo para se decompor no solo. A proteína
inseticida continuaria ativa no solo por tempo variável. Em solos
argilosos por até 230 dias. Não existem estudos convincentes de impacto
sobre insetos de solo.
- Alguns estudos sobre insetos que
atuam como predadores de outros insetos se baseiam em uma espécie de
inseto do gênero Chrysophea que não existe no Brasil. Existem diferenças
na composição das plantas GM para alguns elementos e alguns
aminoácidos. Estas diferenças podem ter impacto na formulação de rações.
No caso de pelo menos um algodão, há um maior teor de gossipol. O
gossipol altera a produção de espermatozoides, reduz a fertilidade de
machos e está presente nos caroços utilizados para alimentação animal no
nordeste.
- Estudos mostram impacto sobre joaninhas que
atacam pulgões e sobre alguns besouros que atuam na reciclagem de
nutrients-- coisa que não acontece no milho não modificado.
Breve resumo destacando os principais pontos deste artigo.
As promessas de maior produtividade, como elemento para vencer a fome
no mundo, de menor impacto ambiental (com redução no uso de
agrotóxicos), de proteção à saúde humana e animal como consequência de
processos científicos e rigorosos ainda não foram cumpridas. As
promessas de PGMs tolerantes à seca, a solos ácidos e salinos,
qualitativamente superiores, até o momento também não o foram. Os
transgênicos disponíveis se limitam a ampliar e consolidar processos
oligopolísticos nos mercados de agrotóxicos e sementes. É expressiva a
redução no número de empresas, a simplificação no leque de variedades
ofertadas e os impactos sobre a biodiversidade. Cresce o número de
pragas e plantas adventícias de difícil controle; amplia-se o grau de
toxicidade e periculosidade dos agroquímicos associados ao plantio de
OGMs.
As normas não estão sendo respeitadas, as restrições
estabelecidas para controle da contaminação são ineficazes, a
convivência com lavouras tradicionais se mostra impraticável. Os
agricultores familiares estão perdendo o controle e o domínio sobre
conhecimentos, sementes e tecnologias tradicionais, socialmente
construídas e historicamente adaptadas aos diferentes ambientes. Boa
parte das avaliações realizadas no Brasil, atestando segurança ao
consumo e ao ambiente são frágeis e insuficientes. Isso pode ser
verificado através de exame dos processos, cotizando as deliberações com
argumentos expostos nos pareceres contraditórios, que são públicos e
estão disponíveis na CTNBio.
Foi liberada (meados de junho de
2013) uma nova variedade de milho GM7. Boa parte dos argumentos
apresentados nos pareceres sustentando insuficiência de dados para
atestar a segurança ambiental e nutricional daquele Milho GM se mostra
válido para a maioria das PGMs cultivadas no Brasil e podem ser
resumidos como segue:
-Estudos insuficientes e elaborados pelos
próprios interessados – a maior parte dos argumentos apresentados está
contida em relatórios técnicos da própria empresa
-Estudos inadequados de curto prazo e apoiados em métodos estatísticos mal documentados.
Dados toxicológicos envolvendo apenas avaliações de intoxicação aguda e
realizados com proteínas extraídas da bactéria e não da PGM. A
avaliação de consumo de grãos, rações e forragens envolvendo tecnologia
HT, que existe apenas em função da aplicação em cobertura de seus
herbicidas associados, é realizada na ausência dos agrotóxicos--
falsificando -nos testes- a situação encontrada no mundo real. A
mostragens não representativas, número insuficiente de repetições,
alterações nos dados não justificadas. Em muitos casos, essas
transformações ampliam a probabilidade de erro Tipo II (não encontrar
diferenças onde elas existem) contribuindo para atestar a segurança das
PGMs (sua equivalência com parentais não modificados). Avaliações de
populações de insetos são realizadas de forma inadequada, desprezando a
importância ecológica dos mesmos.
--Desprezo a informações problemáticas contidas nos processos.
Circunstâncias onde os estudos encaminhados pelas empresas revelam
diferenças significativas entre teste e controle (na perspectiva dos
testes estatísticos utilizados pelas proponentes) são desprezadas com o
argumento de irrelevância biológica (não comprovada) ou ainda com o
argumento de que as se devem a outros fatores.
--Desprezo as
normas da CTNBio– não apresentação de estudos de longo prazo por duas
gerações com animais consumindo os transgênicos em questão. Não
apresentação de estudos com animais em gestação. Não apresentação de
estudos em todos os biomas. Não apresentação de informação sobre uso de
herbicidas nos estudos de nutrição; não apresentação de dados de
resíduos nos grãos; não apresentação de estudos com organismos não alvo
presentes nas regiões onde as PGM serão cultivadas; não apresentação de
estudos de impacto sobre ambientes aquáticos.
- Omissão de
dados necessários para conferência dos resultados apresentados. As
avaliações da CTNBio se baseiam em dados médios apresentados pelas
empresas. Em muitos casos, estas médias envolvem dados de safra e
safrinha obtidos em regiões distintas. Essa composição amplia a
variância dos resultados conjuntos e inflaciona a possibilidade de
falsos negativos-- situações onde não são percebidas diferenças que de
fato existem e que seriam percebidas nos dados individualizados para
safras ou safrinha nas diferentes regiões. Quando solicitados, os dados
originais não são disponibilizados.]
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