post de march against monsanto |
No geral a revista diz o que todos dizem, que há suspeitas de que pesticidas da classe dos neonicotinóides afetem o sistema nervoso desses insetos além de pragas e doenças que são associadas à morte massiva das abelhas.
Desses fatos é possível afirmar que a contaminação química (que é generalizada e cumulativa) cedo ou tarde ia começar a mostrar a conta pra gente. Pois bem, o fato de que além dos neonicotinóides são encontrados uma série de outras classes de agrotóxicos nos pólens das abelhas é tratado como algo trivial, como se por aparecer em 'níveis seguros' está ok.
Outro fato é que a produção agrícola predominante é a de monoculturas (em escala geográfica pelo menos). A matéria até chega a citar isso em algum momento, mas apenas pra ilustrar que são desertos na perspectiva da abelha onde não podem encontrar alimento e portanto lhe são inóspitos. O que a revista nem cita é que monoculturas são altamente dependente de insumos agroquímicos, além de afetarem o que chamamos de fitossanidade - o que aumenta enormemente a incidência de pragas e doenças.
A biodiversidade é uma barreira natural que controla as populações de todos os seres que vivem num determinado ambiente. Quando reduzimos drasticamente ou eliminamos essa barreira, as interações entre as espécies fica caduca e algumas ficam em enorme vantagem e passam por um boom populacional, o que consequentemente afeta negativamente as outras populações locais.
Tudo que consideramos pragas ou doenças ocorrem naturalmente em alguma escala que faz parte do funcionamento normal de um sistema, mas quando as barreiras naturais biológicas são eliminadas, o que era inofensivo pode se tornar um enorme risco que compromete a viabilidade de uma ou várias espécies. A história humana já passou e ainda passa cotidianamente por várias situações dessas, o que infelizmente parece já ter se tornado normal para muitos.
Apesar de também não ter sido mencionado, os pesticidas ainda são conhecidos por afetar a saúde dos animais de forma generalizada, o que significa que aqueles expostos às substâncias podem apresentar problemas imunológicos que agravam o problema das pragas e doenças já piorados pela questão fitossanitária mencionada anteriormente.
A matéria sonda em busca de uma explicação simplista e reducionista, mas com certeza a interação de pelo menos todos os elementos citados é o caminho pro entendimento desse trágico fenômeno com prováveis outros elementos que ainda não conhecemos decentemente e que compõem esse caldeirão químico e ecológico.
Mas o que me intrigou ao analisar esse discurso não foi nem a superficialidade em que este tema é tratado. O que mais me chocou foi considerar a fala do cabeça da Monsanto sobre o tema das abelhas como se esta fosse uma empresa dedicada e preocupada em resolver os problemas relacionados a esses serviços ambientais, ao meio ambiente ou aos animais.
O artigo faz pouco caso da redução da apicultura nos EUA dizendo que é muito mais reflexo da redução da população rural que deixa de exercer a atividade e a entrada de méis mais baratos do mercado externo.
Diz ainda que os principais alimentos produzidos (arroz, milho e trigo) são autopolinizados e que a extinção da abelha não afetariam essas produções. O que ele não diz é que a falta de agrobiodiversidade é um risco enorme pra segurança alimentar e nutricional de todos.
E pra fechar com a cereja no topo do bolo fala que uma das pragas da abelha, mais especificamente um ácaro, que pode ser combatida por técnicas de interferência do RNA desenvolvida por ninguém menos que a Monsanto, alegando que seria uma solução tecnológica muito melhor já que "não necessitaria de produtos químicos pro seu combate".
A considerar todas as promessas não cumpridas pela indústria de biotecnologia (principalmente a própria Monsanto) na agricultura e de suas propagandas enganosas, está na cara que eles só querem faturar muita grana com mais essa tragédia antropogênica.
Se estivessem realmente preocupados e interessados em resolver o problema, buscariam o entendimento ecológico mais aprofundado manejando integralmente o ecossistema, ferramentas estas que a perspectiva agroecológica trata como realmente eficazes e seguros.
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