Comumente os defensores de transgênicos e agrotóxicos acusam aqueles que propõem alternativas produtivas saudáveis e sensatas de serem ideológicas, como se isso fosse em detrimento da credibilidade científica.
Se é ideologia ter um mundo com relações mais saudáveis, de uma permanência de nossa espécie que seja realmente sustentável, isso pode muito bem ser pautado e construído sobre ciência de qualidade, ao contrário do setor que nos contrapõe: o agronegócio.
O agronegócio sim se pauta por ideologia em detrimento de conhecimento de qualidade.
Se atêm a um modelo de desenvolvimento já ultrapassado. Coisa do século XX.
Um crescimento econômico a qualquer custo: ambiental, social ou cultural.
Essa sim é uma ideologia parva, que apenas beneficia economicamente as gigantes corporativas do setor (como a mencionada Andef). Elas, de tão cegadas por sua ganância, nem conseguem se enxergar de tal forma.
O pior é que ainda utilizam um discurso de que são a salvação, mas apenas agravam todos os problemas que diz que se propõe a resolver.
O poder econômico lhes dá o poder político, que acaba refletindo até no setor acadêmico, onde se deveria produzir conhecimento de excelência pelo bem da sociedade, mas que infelizmente não é o que ocorre.
Abaixo a carta de repúdio da Fiocruz, Inca e Abrasco sobre as acusações que têm sofrido por este setor.
[Uma verdade cientificamente comprovada: os agrotóxicos fazem mal à saúde das pessoas e ao meio ambiente
Historicamente, o papel da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) e da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) é de produção de
conhecimento científico pautado pela ética e pelo compromisso com a
sociedade e em defesa da saúde, do ambiente e da vida. Essas
instituições tiveram e têm contribuição fundamental na construção e no
fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
Quando
pesquisas desenvolvidas nas referidas instituições contrariam
interesses de negócios poderosos, incluindo o mercado de agrotóxicos,
que movimenta anualmente bilhões de reais, eventualmente elas sofrem
ataques ofensivos que, transcendendo o legítimo debate público e
científico, visam confundir a opinião pública utilizando subterfúgios e
difamações para a defesa e manutenção do uso de substâncias perigosas à
saúde e ao meio ambiente.
A Fiocruz, o Inca e a
Abrasco não se eximem de seus papéis perante a sociedade e cumprem a
missão de zelar pela prevenção da saúde e proteção da população. Por
esta razão têm se posicionado claramente no que diz respeito aos perigos
que os agrotóxicos e outras substâncias oferecem à saúde e ao meio
ambiente. Desde 2008, o Brasil lidera o ranking de uso de agrotóxicos, o
que gera um contexto de alto risco e exige ações prementes de controle e
de transição para modelos de produção agrícola mais justos, saudáveis e
sustentáveis.
As pesquisas sociais, clínicas,
epidemiológicas e experimentais desenvolvidas a partir de pressupostos
da saúde coletiva, em entendimento à complexa determinação social do
processo saúde-doença, envolvem questões éticas relativas às
vulnerabilidades sociais e ambientais que necessariamente pertencem ao
mundo real no qual as populações do campo e das cidades estão inseridas.
Neste sentido, a Fiocruz, o Inca e a Abrasco
estão seguros do cumprimento de seu papel. Portanto, repudiam a acusação
de que são guiados por um “viés ideológico” e sem qualidade científica.
As referidas instituições defendem os interesses da saúde pública e dos
ecossistemas, em consonância com os direitos humanos universais, e
firmados pelos princípios constitucionais que regem o Brasil.
A Fiocruz, o Inca e a Abrasco atuam há décadas em parceria com
diversas universidades e institutos de pesquisas, como a Universidade
Federal do Mato Grosso (UFMT), em que atua o professor e pesquisador
Wanderlei Pignati – citado em reportagem da revista “Galileu” mencionada
abaixo –, e outros que desenvolvem pesquisas sobre os impactos dos
agrotóxicos e de micronutrientes na saúde e no ambiente que são idôneas,
independentes, críticas, com metodologias consistentes e livres de
pressões de mercado. Tais pesquisas vêm revelando a gravidade, para a
saúde de trabalhadores e da população em geral, do uso de agrotóxicos, e
reforçam a necessidade de medidas mais efetivas de controle e
prevenção, incluindo o banimento de substâncias perigosas já proibidas
em outros países e o fim da pulverização aérea.
O
“Dossiê Abrasco–Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde”
registra e difunde a preocupação de pesquisadores, professores e
profissionais com a escalada ascendente de uso de agrotóxicos no Brasil e
a contaminação do ambiente e das pessoas dela resultante, com severos
impactos na saúde pública e na segurança alimentar e nutricional da
população.
Os agrotóxicos podem causar danos à
saúde extremamente graves, como alterações hormonais e reprodutivas,
danos hepáticos e renais, disfunções imunológicas, distúrbios cognitivos
e neuromotores e cânceres, dentre outros. Muitos desses efeitos podem
ocorrer em níveis de dose muito baixos, como os que têm sido encontrados
em alimentos, água e ambientes contaminados. Além disso, centenas de
estudos demonstram que os agrotóxicos também podem desequilibrar os
ecossistemas, diminuindo a população de espécies como pássaros, sapos,
peixes e abelhas. Muitos desses animais também desempenham papel
importante na produção agrícola, pois atuam como polinizadores,
fertilizadores e predadores naturais de outros animais que atingem as
lavouras. O “Dossiê Abrasco” cita dezenas dos milhares de estudos
publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais de
renome que comprovam esses achados.
É direito da
população brasileira ter acesso às informações dos impactos dos
agrotóxicos. Faz-se necessário avançar na construção de políticas
públicas que possam proteger e promover a saúde humana e dos
ecossistemas impactados negativamente pelos agrotóxicos, assim como
fortalecer a regulação do uso dessas substâncias no Brasil, por meio do
SUS.
Nesse sentido, a Fiocruz, o Inca e a
Abrasco repudiam as declarações do diretor-executivo da Associação
Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, e de Ângelo Trapé, da
Unicamp, veiculadas na revista “Galileu” nº 266, edição de setembro de
2013, e também na entrevista divulgada no site da publicação, que
atentam contra a qualidade científica das pesquisas desenvolvidas nessas
instituições e, em especial, contra o “Dossiê Abrasco – Um alerta sobre
os impactos dos agrotóxicos na Saúde”.
As
palavras do diretor-executivo da Andef, que tentam desqualificar e
macular a credibilidade dessas instituições, são inéditas, dado o
prestígio nacional e internacional e a relevância secular que temos na
área da pesquisa e formulação de políticas públicas de ciência,
tecnologia e inovação em saúde, bem como na formação de profissionais
altamente qualificados.
A Andef é uma associação
de empresas que produzem e lucram com a comercialização de agrotóxicos
no Brasil. Em 2010, o mercado dessas substâncias movimentou cerca de US$
7,3 bilhões no país, o que corresponde a 19% do mercado global de
agrotóxicos. As seis empresas que controlam esse segmento no Brasil são
transnacionais (Basf, Bayer, Dupont, Monsanto, Syngenta e Dow) e
associadas à Andef. As informações sobre o mercado de agrotóxicos no
Brasil, assim como a relação de lucro combinado das empresas na venda de
sementes transgênicas e venenos agrícolas, estão disponíveis no
referido Dossiê Abrasco “Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na
Saúde”.
A Fiocruz, o Inca e a Abrasco não
aceitarão pressões de setores interessados na venda de agrotóxicos e
convocam a sociedade brasileira a tomar conhecimento e se mobilizar
frente à grave situação em que o país se encontra, de vulnerabilidade
relacionada ao uso massivo de agrotóxicos.
Rio de Janeiro, 06 de setembro de 2013]
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Um comentário:
Glenn, acho que está havendo alguma confusão nesta postagem, confusao que reflete om entendimento errôneo muito generalizado do que é a adoção de plantas transgênicas e o uso de agrotóxicos. As instituições que você defendem estão tratando da questão do impacto dos agrotóxicos na saúde e não do aumento ou redução ou troca de princípios ativos que a agroindústria promove com a adoção da transgenia. Até porque claramente a coisa se divide em duas, muitO diferentes: se a planta transgênica é resistente a insetos, ela CLARAMENTE reduz o uso de agrotóxicos (os inseticidas, neste caso). Se ela é tolerante a herbicidas ela implica na troca de um conjunto de herbicidas, muitas vezes muito tóxicos, por um menos tóxico.
´Não tem nada a ver com ideologia a compreensão correta das coisas. Todos temos uma ideologia, mas mascarar a verdade por causa dela não tem justificativa. Basta ler com atenção o Paulo Feire para aprender a respeitar esta regra.
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