Apesar do nome do post parecer algo como slogan de academia aeróbica ou outra coisa afim, o que tem a seguir é um pouco menos fútil.
Um pocão, como diriam os mineiros.
Comecei na semana passada a folhear o livro entitulado Behavioral Ecology and the Transition to Agriculture (Origins of Human Behavior and Culture), para compreender as bases biológicas por trás da complexidade do estilo de vida urbano-agrícola – que de tão complexo nem mais percebemos as relações entre as partes – contrapondo-o ao estilo de vida do qual isso derivou: a caça e coleta way of life.
Um pocão, como diriam os mineiros.
Comecei na semana passada a folhear o livro entitulado Behavioral Ecology and the Transition to Agriculture (Origins of Human Behavior and Culture), para compreender as bases biológicas por trás da complexidade do estilo de vida urbano-agrícola – que de tão complexo nem mais percebemos as relações entre as partes – contrapondo-o ao estilo de vida do qual isso derivou: a caça e coleta way of life.
Então vamo nessa.
Estima-se que a agricultura surgiu entre 8 e 13 mil anos atrás. Só pra v. se situar, a nossa espécie humana (Homo sapiens) surgiu há cerca de 200 mil anos, mas muito antes, outras espécies humanas (do gênero Homo) já vagavam pela terra desde um período estimado entre 1,5 e 2,5 milhões de anos atrás.
*encefalização, dentre outras coisas, significa a tendência que certas espécies têm em desenvolverem cérebros maiores no tempo evolutivo.
A agricultura alterou enormemente os hábitos e relacionamentos do homem com a natureza (lê-se recursos naturais) e com os outros homens. Pela primeira vez na história da humanidade surgem as bases de comunidades que futuramente se tornariam cidades (aumentando constantemente as densidades populacionais), da economia, e do convívio com as mortes que nos levam ao primórdio das religiões.
*encefalização, dentre outras coisas, significa a tendência que certas espécies têm em desenvolverem cérebros maiores no tempo evolutivo.
A agricultura alterou enormemente os hábitos e relacionamentos do homem com a natureza (lê-se recursos naturais) e com os outros homens. Pela primeira vez na história da humanidade surgem as bases de comunidades que futuramente se tornariam cidades (aumentando constantemente as densidades populacionais), da economia, e do convívio com as mortes que nos levam ao primórdio das religiões.
Compreender os comos e por quês do surgimento da agricultura é importante para entender que o futuro da humanidade depende de uma "revolução" agrícola sustentável pela preservação de diversidade de cultivares e – considerando-se a inevitabilidade dos danos decorrentes da presença humana – mitigação de impactos ambientais da agricultura.
Às vésperas do surgimento da agricultura, a população mundial era estimada na ordem de 10 milhões de habitantes. Isso dá pouco mais da metade da população da região metropolitana de São Paulo – a região metropolitana é uma área urbanizada em grande parte, sendo que os recursos alimentares que o sustentam geralmente são importados de outras regiões do país ou mesmo fora dele, acarretando em custos diversos (tanto de capital natural, econômico e humano).
Seis regiões independentes são reconhecidos como os loci primários de domesticação e emergência da agricultura, são eles: Oriente Médio, África sub-Sahariana, China/Sudeste asiático, Leste da América do Norte, Mesoamérica e América do Sul.
A partir daí alguns aspectos antropológicos são relevantes. Segundo registros arqueológicos, as 6 sociedades-berço da agricultura eram bastante semelhantes às sociedades de caçadores-coletores que ainda existem atualmente. Redes de trocas de bens já existiam e as variedades domesticadas de plantas e animais foram ganhando espaço de forma crescente nesse canal, estimulando a migração de agricultores para territórios de caçadores-coletores, que ulteriormente foram substituídos ou incorporados em economias agrícolas.
Centros de origem da agricultura e
áreas atuais com maior produtividade. daqui
A partir daí alguns aspectos antropológicos são relevantes. Segundo registros arqueológicos, as 6 sociedades-berço da agricultura eram bastante semelhantes às sociedades de caçadores-coletores que ainda existem atualmente. Redes de trocas de bens já existiam e as variedades domesticadas de plantas e animais foram ganhando espaço de forma crescente nesse canal, estimulando a migração de agricultores para territórios de caçadores-coletores, que ulteriormente foram substituídos ou incorporados em economias agrícolas.
Essas populações, que em princípio eram de caça e coleta, foram gradualmente diversificando suas estratégias de subsistência alimentar, adotando estratégias mistas (intermediárias entre exclusivamente de caça e coleta e exclusivamente de agropecuária).
Os caçadores-coletores foram ocupando habitats cada vez maiores no período que abrange o fim do Pleistoceno e o início do Holoceno (~ 11,5 mil anos atrás), em partes devido à extinção de espécies de caça de grande porte e a então necessidade de buscar novos recursos, mas também devido a uma ampla gama de recursos alternativos que surgia com as condições climáticas mais quentes e úmidas do fim da última grande era do gelo (que marca o início do Holoceno).
Bosquímanos, exemplo crasso de sociedade caçadora-coletora atual,
vivem no Deserto do Kalahari, imagem daqui
Populações densas e sociedades de Estado centralizado como as nossas (e outras tantas do mundo ocidentalizado atual) dependem de um sistema agrícola de complexidade crescente, envolvendo modificações da textura, estrutura e fertilidade do solo que ocasionalmente resultam em severa degradação ambiental, sendo este último um dos maiores desafios do mundo contemporâneo.
Plantas e animais que se adaptam melhor ao processo de domesticação é, geralmente, devido a habilidades que elas apresentam em se dar bem nos ambientes modificados pelo homem. Em alguns casos, as modificações biológicas podem ter começado incidentalmente como um subproduto da co-evolução que se tornou explorável pelo homem.
Nos casos mais extremos, as espécies já são tão modificadas que são, hoje, totalmente dependentes do manejo humano para completar seus ciclos biológicos.
É muito estrago em muito pouco tempo... sempre me lembro daquela analogia do surgimento do homem nos dois últimos segundos do dia quando comprimimos a idade do universo a 24 horas. Nesse curtíssimo período atingimos 1/4 da superfície terrestre relacionados diretamente com a produção de alimentos (sem considerar outros impactos como a mineração e transporte que dão insumos à agricultura que ainda utiliza agroquímicos, geralmente de forma indiscriminada).
Somos quase 7 bilhões de indivíduos, produzimos alimentos suficiente pra mais de 12 bilhões de pessoas e mesmo assim mais de 800 milhões de pessoas passam fome. São números difíceis de digerir... Em nível específico gastamos recursos em demasia, de forma não muito eficiente. A tecnologia e o conhecimento nos permitiu forjar recursos artificiais que criam uma boa ilusão de que as coisas vão bem no curto prazo, apesar do mesmo macete criar uma tragédia (para nossa e para outras espécies que dependem de nós) num prazo um pouco mais longo.
veja também:
>Department of Horticulture and Landscape Architecture, da Purdue University, dos EUA. - com diversos textos e vídeos de palestras ocorridas lá sobre a origem da horticultura desde a pré-história
É muito estrago em muito pouco tempo... sempre me lembro daquela analogia do surgimento do homem nos dois últimos segundos do dia quando comprimimos a idade do universo a 24 horas. Nesse curtíssimo período atingimos 1/4 da superfície terrestre relacionados diretamente com a produção de alimentos (sem considerar outros impactos como a mineração e transporte que dão insumos à agricultura que ainda utiliza agroquímicos, geralmente de forma indiscriminada).
Somos quase 7 bilhões de indivíduos, produzimos alimentos suficiente pra mais de 12 bilhões de pessoas e mesmo assim mais de 800 milhões de pessoas passam fome. São números difíceis de digerir... Em nível específico gastamos recursos em demasia, de forma não muito eficiente. A tecnologia e o conhecimento nos permitiu forjar recursos artificiais que criam uma boa ilusão de que as coisas vão bem no curto prazo, apesar do mesmo macete criar uma tragédia (para nossa e para outras espécies que dependem de nós) num prazo um pouco mais longo.
É claro que temos que refletir nossos hábitos esforçando-nos para que a maior quantidade de pessoas tenham a mínima qualidade de vida necessária. Mas tão importante quanto o momento presente, é a manutenção dessa qualidade de vida para a posterioridade.
Não apenas pelo argumento romântico e superficial de deixar para nossos filhos e netos um mundo tão ruim quanto aquele que recebemos de nossos pais e avós, mas, mais romântico ainda apesar de meio embasado na biologia evolutiva, de criar subsídios para que as futuras gerações humanas (que vão tão longe ou além do que nossa imaginação é capaz) estejam presentes, e mais que isso, que estejam minimamente confortáveis (hahaha, pouco provável)... isso é o que eu chamaria de "manter o fitness com qualidade de vida".
veja também:
>Department of Horticulture and Landscape Architecture, da Purdue University, dos EUA. - com diversos textos e vídeos de palestras ocorridas lá sobre a origem da horticultura desde a pré-história
> Metropolitan Agriculture e Reos são duas iniciativas gringas com o olho em São Paulo, o enfoque é a produção de alimentos na área metropolitana e/ou periurbana. (dica da Natália Garcia, do !sso não é normal)
>International Assessment of Agricultural Knowledge, Science and Technology for Development é uma avaliação internacional a respeito de diversos âmbitos da agricultura. Lançado em 2008. Não é possível acessar o documento completo, mas o acesso aos EXECUTIVE SUMMARY of the SYNTHESIS REPORT e GLOBAL SUMMARY for DECISION MAKERS (SDM) são de livre acesso
Nenhum comentário:
Postar um comentário