para atingir tal objetivo, parasitas têm estratégias evolutivas muito intrigantes.
basicamente na relação evolutiva entre hospedeiro e parasita, o parasita tende a ser cada vez menos nocivo ao hospedeiro, como os micróbios que temos em nosso aparelho digestório, quanto mais agressiva for esta relação, é mais provável que seja um evento evolutivo recente.
parasitas alteram o funcionamento de seu hospedeiro para propagar-se da maneira mais eficaz possível. exemplos cotidianos podem ser citados facilmente.
o espirro de uma pessoa gripada, por exemplo, propaga o vírus da gripe através do ar. assim como ocorre com a tosse do tuberculoso.
e mesmo que uma pessoa coloque a mão na frente, é improvável que ela vá lavar a mão logo em seguida. virtualmente, isto significa que até esta pessoa desinfetar sua mão, irá propagar micróbios no apertar de mãos, ao pegar na maçaneta, ao atender o telefone, etc.
este é um dos motivos pelo qual aprendemos a lavar as mãos antes de comer, pois é o momento que levamos a mão a boca, sendo um momento bem delicado nesse processo todo.
aliás, encontrei um vídeo "educativo" que mostra como deveríamos espirrar.
mas há uma estratégia utilizada por alguns parasitas que são mais intrigantes: a indução de comportamentos do hospedeiro.
digo isso porque um amigo meu me relatou que havia sido mordido por um cão raivoso.
felizmente ele - meu amigo, não o cachorro - não morreu (afinal a raiva é uma doença 100% letal), pois foi tomar uma vacina anti-rábica a tempo.
porém, o mais interessante do relato dele foi que ao procurar informações sobre a raiva ele leu que em estágios mais avançados, as pessoas começam a ficar com vontade de sair mordendo outras pessoas, como faz um cão raivoso.
seria uma modificação comportamental nítida para a propagação do parasita, e consequentemente, da doença.
talvez o cão raivoso não seja mais agressivo, ele apenas quer morder as pessoas. mas isto é apenas uma especulação pessoal. enfim...
um outro caso mais ou menos bem conhecido é o caso da toxoplasmose em ratos.
o rato (Rattus norvegicus) é um animal neofóbico, como já disse em algum post anterior.
só que o rato infectado com o toxoplasma (Toxoplasma gondii) fica sem medo.
poderíamos dizer que fica corajoso e perde o medo da morte.
há diversos estudos mostrando isto.
um dos experimento mais interessantes foi feito com odores. incluíam urina de gato, urina de coelho, água e materiais utilizados para a confecção do ninho (não consigo traduzir o termo bedding material, então fica assim mesmo). nele o roedor infectado com toxoplasma cheirava mais a urina de gato que ratos não infectados, sendo que as taxas de visitas em outros odores era relativamente semelhante.
o rato perde a neofobia, começa a procurar estímulos novos, desde ambientes a alimentos. é o que macdonald chama de tendência kamikaze. essa estranha tendência suicida na verdade é um aumento nas taxas de atividade do animal juntamente ao medo perdido (como ilustrado no caso dos odores), o que aumenta a probabilidade de ser encontrado por um predador, no ambiente sinantrópico ocasionalmente o predador é o gato doméstico
se analisarmos a biologia desta interação toda perceberemos que o mais interessante disto tudo não é que o rato perde o medo do gato, mas que o gato é o hospedeiro definitivo do toxoplasma. saber quão antiga essa relação entre gatos ratos e toxoplasmas é, e o quanto a convivência peridoméstica de ambos acelerou tal processo ainda não é possível. mas é nítido que a sinantropia afetou grandiosamente nessa relação.
inevitavelmente continuamos e continuaremos a afetar de tantas formas conhecidas e muitas outras formas que talvez nunca cheguemos a saber. afinal, querendo ou não, interagir é indispensável à existência.
glossário:
- hospedeiro definitivo: hospedeiro que alberga a fase reprodutiva do parasita.
fontes consultadas:
- tratado de animais selvagens, de zalmir silvino cubas, jean carlos ramos silva e josé luiz catão-dias (2007).
- the behaviour and ecology of Rattus norvegicus: from opportunism to kamikaze tendencies, de david w. macdonald, fiona mathews e manuel berdoy. in ecologically-based management of rodent pests (1999).
- the behaviour and ecology of Rattus norvegicus: from opportunism to kamikaze tendencies, de david w. macdonald, fiona mathews e manuel berdoy. in ecologically-based management of rodent pests (1999).
4 comentários:
Ainda bem que o cara da foto sobreviveu, o cachorro parece feroz mesmo. A foto pega bem a hora que o cachorro começa a atacar, pois o cara ainda tá sorrindo. Até que é bonitinho (o cachorro).
Essa cachorra é tão violenta q qse matou o Judas... Q por sinal só foi salvo por experientes alfaiates e costureiras de plantão q costuraram o braço dele de volta ao lugar...
Se não me engano tbm tem um tipo de tênia de aves que age de forma semelhante ao Toxoplasma, porém a larva age sobre o sistema nervoso de peixes...
Muito estranho, como sabem que o cachorro tem raiva? pelo menos fisicamente o cao nao apresenta nenhum sintoma da doença.O que parec é que o cao esta tentando morder pelo fato dele estar incomodado com a posiçao, isso as vezes estressa o animal, e ele tenta reagir.
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