28 de outubro de 2009

filmes, o ambiente e o homem

na última sexta feira, dia 23, teve início a 33ª mostra internacional de cinema, em são paulo.
esta é uma oportunidade anual de se conhecer os novos trabalhos de diversos cineastas do mundo todo, abrangendo tudo quanto é tipo de filme. aqui vou falar de dois documentários bem interessantes a que assisti: "a árvore da música" e "nos enfant nous accuseront"



o primeiro é um filme de otávio juliano, lançado este ano, e trata sobre diversos aspectos do pau-brasil (Caesalpinia echinata). sabiam que a madeira do pau-brasil é considerada a melhor para se fazer arcos de instrumentos orquestrais de corda como violino, cello, baixo e afins? pois é, devido a características como resistência e elasticidade, além da cor maravilhosa, esta é, há séculos, a matéria prima preferida utilizada por archeteiros (é como se chamam as pessoas que confeccionam arcos). porém, com a mata atlântica indo pro beleléu (donde o pau-brasil é endêmico), a árvore também corre grandes riscos de extinção.
é óbvio que o cenário crítico não é culpa dos músicos/archeteiros, mas atualmente esta é a principal atividade econômica associada ao pau-brasil.
o pau-brasil como qualquer brasileiro tem a obrigação de saber, é a planta que batiza nosso país. foi muito cobiçada por causa dos corantes vermelhos que contém. o vermelho, por sua vez, é símbolo de nobreza, o que levou o pau-brasil a ser explorada sem dó (além de que há tempos atrás - e não é preciso ir tão pra trás no tempo - a ordem de progresso era a exploração da terra e não sua compreensão e conservação).
atualmente os principais remanescentes de populações de pau-brasil se encontram em terrenos inapropriados para outros tipos de uso da terra, conseguindo, apenas por isso, se manter.
o doc mostra também, apesar de não enfatizar apropriadamente, que os agroflorestamentos com plantações de cacau é uma boa forma de se conservar espécimes de pau-brasil, com DAP (diâmetro na altura do peito) de mais de 3,5m, o que é um tamanho considerável para esta espécie. o filme também mostra como tem muito mais gringo (principalmente franceses) preocupado com a sobrevivência da espécie que as entidades nacionais.

o doc falha ao não abordar que isto é também reflexo do estilo de vida contemporâneo, e aparentemente acaba ignorando o contexto maior no qual isso tudo se insere, como se fosse uma preocupação apenas de botânicos, músicos, archeteireos e do IBAMA, fazendo o doc ter apenas um carater informativo sobre as pessoas diretamente envolvidas com a planta. apesar disso vale a pena ver o que as pessoas envolvidas com as populações remanescentes de pau brasil têm a dizer.



o segundo filme do qual falarei teve o título traduzido como "nossos filhos vão nos culpar", é um filme francês, de jean-paul jaud, do ano passado.
o doc faz a correlação de como os casos crescentes de diversas doenças nas últimas décadas está diretamente ligado a alimentação, devido às doses cavalares de agrotóxicos que se aplica na agricultura convencional (o qual o filme chama apropriadamente de agricultura química). a inspiração do doc vem de uma ação pioneira do prefeito de barjac, na frança. lá ele substituiu toda alimentação das cantinas de escolas primárias por alimentos orgânicos.
é notável como a distribuição do alimento é organizada, reduzindo enormemente o desperdício: contabilizando-se quantas pessoas (adultas, crianças grandes e crianças pequenas) irão comer e cozinhando o suficiente para elas.
o doc intercala cenas de eventos da unesco, de reunião do prefeito de barjac com agricultores orgânicos e químicos além de outros eventos como o dia-a-dia de escolas e famílias de alunos e depoimentos, principalmente de agricultores.
muito legal, muita inveja de pequenas comunidades que aprenderam a respeitar e agora convivem bem com sistemas produtivos compatíveis as necessidades locais.
muitas coisas pra dizer, mas estragaria os docs. como bom amante de filmes, o desconhecimento é o principal fator para uma boa surpresa.

então fica aí a sugestão para assistirem na mostra:
outros horários para a árvore da vida: 02/11 às 16:00 no cinema da vila e 03/11 às 14:00 no mis (museu da imagem e do som); para o nos enfant nous accuseront: 30/10 às 20:00 ccsp (centro cultural são paulo), 03/11 às 18:00 cine bombril sala1, 04/11 às 17:50 matilha cultural. clique nos linques no começo do post para mais informações.

          

boa mostra!

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