30 de maio de 2013

O alimento e sua centralidade

Faz muito tempo que não escrevo um post de verdade neste blógue.

Muita coisa importante tem sido deixado de ser dito por minha negligência, mas acho que agora é hora de retomar este hábito.

Sempre me impressionei com o potencial humano para coisas bacanas assim como pra coisas catastróficas. Comecei este blógue principalmente para divulgar assuntos relacionados com animais que convivem com o homem (sejam em ambientes naturais ou modificados pelo homem), assim como sua ecologia e comportamento.

Teve até uma época que queria estudar profundamente a ecologia de ratos de esgoto no ambiente urbano de São Paulo, mas por falta de quem me orientasse nesse tipo de estudo, acabei desistindo.

Comecei um mestrado na USP, no programa de Neurociências e Comportamento, no Instituto de Psicologia, estudando a ecologia comportamental da pomba-amargosa, uma famosa ave-praga que fazia ninhos nos enormes canaviais (que mimetizavam a vegetação espinhosa da caatinga) e tinha enorme fartura de alimento ao explorar os grãos de cultivos adjacentes. Os grãos eram provenientes da ineficiência do maquinário agrícola, que chegava a desperdiçar 30% do que produzia. Essas populações da amargosinha (como também é chamada a ave Zenaida auriculata) encontrava condições que só encontra em agroecossistemas, em que os fatores abrigo, alimento e água a permitiam manter superpopulações (colônias) reprodutivas.

*leia mais sobre esta ave em dois posts que escrevi há muito tempo atrás [parte 1 e parte2]


Acabei por abandonar este mestrado por uma série de motivos que não cabe aqui dizer. Mas antes aprendi uma série de coisas importantes, assim como comecei a minha busca por alternativas produtivas.

Foi nessa busca que conheci o movimento Slow Food (que em princípio é uma contraposição ao modelo alimentar de Fast Food, mas abrange toda complexidade do sistema alimentar), que me trouxe à tona, direta ou indiretamente, uma série de questões como a agrobiodiversidade, o uso intensivo de agrotóxicos na alimentação, a má distribuição de alimentos, segurança alimentar e nutricional, cultivos tradicionais e sua progressiva extinção, comércio justo, economia solidária, produção e consumo local e principalmente, agroecologia.

Atualmente estou tentando organizar melhor as ideias relativas ao alimento, este que se tornou um assunto bastante prioritário para mim. Biologicamente pode-se dizer que alimentação e reprodução são os dois comportamentos mais importantes de um animal como nós.
Compreender como modelamos o nosso complexo sistema alimentar é uma forma também de entendermos melhor a nós mesmos, como espécie, como populações, como indivíduos.
Entender um pouco melhor as tecnologias mais utilizadas na produção industrial, seus propósitos, seus impactos nocivos e alternativas produtivas serão os pontos que mais pretendo abranger.

Que este seja apenas o recomeço.

Um comentário:

Paulinha Honda disse...

Vivaaa! Adoro ler a sinantrópica, Gren! Escreva sempre! Preciso me comprometer mais com a alimentação saudável e consciente. Muito orgulho de vocês! Sempre me inspiram e me retornam ao que realmente importa nessa vida doida.