[Não para de crescer o número de evidências científicas que colocam em
xeque a alegada segurança dos organismos transgênicos para a saúde de
quem os consome.
Um novo estudo realizado por pesquisadores húngaros mostrou que, ao
contrário das afirmações proferidas pelas indústrias de biotecnologia e
órgãos reguladores, fragmentos de DNA grandes o suficiente para
carregarem genes inteiros podem não ser degradados no trato digestivo e,
através de mecanismo ainda desconhecido, entrar no sistema circulatório
humano.
As descobertas estão descritas no artigo científico intitulado “Genes inteiros podem passar da alimentação para o sangue humano” (na tradução livre do inglês), publicado na revista Plos One em julho de 2013.
Segundo explicam os autores, nosso sistema sanguíneo é considerado um
ambiente bem separado do mundo externo e do trato digestivo.
Acredita-se que macromoléculas ingeridas através da alimentação não
podem passar diretamente para o sistema circulatório e que, durante a
digestão, proteínas e DNA são degradados em componentes menores e só
então absorvidos por um complexo processo e distribuídos para várias
partes do corpo através da corrente sanguínea.
Alguns estudos anteriores publicados na literatura científica já
haviam demonstrado que uma pequena quantidade de fragmentos de DNA
provenientes da alimentação podem resistir ao trato digestivo e transpor
a barreira intestinal, mas até agora nenhuma pesquisa havia investigado
se grandes segmentos de DNA podem passar da alimentação para o sistema
circulatório.
O novo estudo, entretanto, baseado na análise de mais de 1.000
amostras humanas oriundas de pesquisas independentes, aponta evidências
de que fragmentos de DNA ingeridos, contendo genes inteiros, podem
escapar da degradação e entrar na corrente sanguínea. Mais que isso, os
dados mostraram que este não é um evento incomum. Nas amostras
analisadas, os pesquisadores puderam, inclusive, identificar de quais
espécies de plantas eram oriundos os genes encontrados, como soja,
canola, laranja ou nabo.
Um dado interessante foi que as maiores concentrações de DNA de
plantas em amostras de sangue foram encontradas em pessoas que
apresentavam doenças inflamatórias, como Doença Inflamatória Intestinal
(DII) e síndrome de Kawasaki, um tipo de vasculite caracterizada pela
inflamação de vasos sanguíneos em todo o corpo e que afeta
principalmente crianças. Segundo os autores, esse fato indica que não se
pode excluir a hipótese de que a alta concentração de DNA de alimentos
no sangue esteja ligada à inflamação.
Os autores enfatizam, em suas conclusões, que as novas descobertas
podem levar a uma revisão do conhecimento acerca dos mecanismos de
degradação e absorção de ácidos nucleicos pelo corpo humano.
Estas descobertas, na verdade, colocam por terra um dos pilares da
argumentação dos cientistas que alegam que os alimentos transgênicos são
seguros para o consumo humano: o de que as proteínas modificadas são
completamente degradadas no trato digestivo. À luz das novas evidências,
abre-se um enorme leque de questões sem resposta a respeito dos efeitos
adversos que transgenes podem provocar no organismo de quem os ingere.
Um outro estudo, este realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) e publicado em março de 2013 pela revisa científica Journal of Hematology & Thromboembolic Diseases,
avaliou a hematoxicidade e a genotoxicidade de toxinas Bt (aquelas
presentes nas plantas transgênicas inseticidas) em ratos de laboratório.
Na pesquisa, quatro proteínas Bt geneticamente modificados (Cry1Aa,
Cry1Ab, Cry1Ac ou Cry2A) foram administradas nas cobaias através de uma
sonda, isoladamente e em dose única, em diferentes concentrações, 24
horas, 72 horas ou 7 dias antes da eutanásia. Combinações binárias das
proteínas também foram administradas em uma única concentração (270
mg/kg), em dose única 24 h antes da eutanásia.
Os resultados da pesquisa mostraram que as proteínas Bt isoladas
provocaram hematoxicidade seletiva para 3 dos tempos de exposição. Foi
também verificada a redução significativa na proliferação de células de
medula óssea, indicando a manifestação de efeitos citotóxicos. Esses
efeitos persistiram em todos os tempos de exposição às proteínas Bt,
tornando-se mais evidentes aos 7 dias. Resultados similares foram
observados nas combinações binárias em 24 horas de exposição. Não foram
encontradas evidências de efeitos genotóxicos nas concentrações e
períodos de exposição às proteínas Bt avaliados.
Observou-se ainda que a proteína Cry1Ab induziu o desenvolvimento de
anemia microcítica hipocrômica nos ratos, mesmo na menor dose testada.
Os autores ressaltam que, conforme descrito em pesquisa
realizada no Canadá e publicada em 2011, esta toxina já havia sido
detectada no sangue de mulheres não grávidas, mulheres grávidas e eu
seus fetos no Canadá – supostamente as mulheres foram expostas à
proteína transgênica através da alimentação.
Conforme apontado nas conclusões da nova pesquisa, de uma forma geral
os resultados mostraram que as quatro proteínas transgênicas Bt
testadas podem representar riscos hematológicos para vertebrados,
aumentando seus efeitos tóxicos na exposição de longo prazo.
Considerando o aumento da exposição de seres humanos e animais a essas
toxinas, especialmente através da alimentação, os pesquisadores
ressaltam a necessidade da realização de estudos mais aprofundados para
esclarecer os mecanismos envolvidos na hematoxicidade verificada nos
ratos, bem como para estabelecer os riscos toxicológicos que as
proteínas transgênicas Bt representam para organismos não alvo,
especialmente os mamíferos – o que deveria ser feito antes de se
concluir pela segurança dessas proteínas para o consumo humano, ao
contrário do que fazem os doutores da CTNBio, que consideram as plantas
Bt seguras “a priori”, dispensando a realização de estudos de longo prazo com cobaias.
No Brasil, estão aprovadas
para cultivo comercial e consumo um tipo de soja, 7 tipos de milho e 7
tipos de algodão transgênicos contendo pelo menos uma das 4 proteínas Bt
analisadas pelos pesquisadores da UNB, além de vários tipos de milho e
algodão contendo outras cinco proteínas Bt do tipo Cry.
–
Referência dos estudos citados:
Spisák S, Solymosi N, Ittzés P, Bodor A, Kondor D, et al. (2013) Complete Genes May Pass from Food to Human Blood. PLoS ONE 8(7): e69805. doi:10.1371/journal.pone.0069805
Mezzomo BP, Miranda-Vilela AL, Freire IdS, Barbosa LCP, Portilho FA, et al. (2013) Hematotoxicity of Bacillus thuringiensis as Spore-crystal Strains Cry1Aa, Cry1Ab, Cry1Ac or Cry2Aa in Swiss Albino Mice. J Hematol Thromb Dis 1:104. doi: 10.4172/jhtd.1000104
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Neste número:
1. Agrotóxicos exterminam abelhas no triângulo mineiro
2. Mais de 10 cidades chilenas protestam contra “Lei da Monsanto”
3. Novo campo experimental de trigo transgênico na Austrália
A alternativa agroecológica
Reforma agrária e garantia das terras dos povos tradicionais são
fundamentais para a agroecologia – entrevista com Denis Monteiro,
Secretário Executivo da ANA
Sementes suicidas:
Assine a petição online contra a aprovação das sementes transgênicas de tecnologia Terminator
no Brasil. A petição foi elaborada a partir de moção aprovada no III
Encontro Internacional de Agroecologia, realizado em Botucatu – SP entre
31 de julho e 3 de agosto de 2013.
Evento:
7ª Feira de Sementes Crioulas e da Biodiversidade de São João do Triunfo, Paraná: comunidade Porto Feliz, 01 de setembro de 2013.
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1. Agrotóxicos exterminam abelhas no triângulo mineiro
Em reportagem do jornal MG Rural,
veiculada pela TV Globo, apicultores do Triângulo Mineiro denunciam a
morte de abelhas por envenenamento. O veneno é oriundo das pulverizações
realizadas nas lavouras de cana da região. Segundo a Associação de
Apicultores de Frutal, mais de mil colmeias morreram envenenadas nos
últimos dois anos e o prejuízo já passa de R$ 240 mil.
Um apicultor entrevistado relata a morte de metade de suas colmeias
dois dias após a pulverização aérea do canavial vizinho à sua
propriedade. Outro apicultor, que perdeu 200 colmeias, cogita abandonar a
atividade após 60 anos de dedicação. Segundo a associação, pelo menos
12 apicultores da região já desistiram do negócio. O triângulo mineiro
produzia 150 toneladas de mel por ano, mas estima-se para este ano uma
queda de 50% na produção.
2. Mais de 10 cidades chilenas protestam contra “Lei da Monsanto”
Mais de dez cidades chilenas protestaram no dia 17 de agosto contra o
projeto de Lei de Obtentores Vegetais, que atualmente tramita no Senado
e é mais conhecido como “Lei Monsanto”.
As manifestações foram convocadas por organizações da campanha Eu Não Quero Transgênicos no Chile,
que busca frear a polêmica normativa proposta pelo governo da
ex-presidenta Michelle Bachelet, e que já tramitou na Câmara dos
Deputados.
No fim de julho, o projeto foi aprovado também na Comissão de
Agricultura do Senado, e agora será votado pelo plenário do parlamento.
Iván Santandreu, integrante da organização Chile Sem Transgênicos,
afirmou que o projeto de lei se concentra na propriedade das sementes
nas mãos de poucas multinacionais: “a medida não contribui em nada para a
inovação e o bem estar dos pequenos agricultores. O que ela faz é
colocar em risco a soberania e a autonomia alimentar de um país,
fazendo-a depender de grandes corporações”. (…)
Claudia Pailef, conselheira nacional indígena da região de Los Lagos,
afirmou que a promulgação da “Lei da Monsanto” trará consigo a
monopolização das sementes, incluindo as nativas, abrindo o caminho ao
ingresso dos transgênicos no país. (…)
Haroldo Salvo-Garrido, diretor do Centro de Genómica Nutricional Agroacuícola
(CGNA), sustentou, em reunião da Comissão de Agricultura do Senado, que
a lei não contempla a utilização da transgenia, e sim estabelece um
marco de proteção aos direitos intelectuais sobre a criação e a produção
de novas variedades de plantas.
Este argumento, entretanto, é rebatido pelas organizações camponesas,
indígenas e acadêmicas que se opõem à aprovação da lei, pois ela irá
impedir que agricultores guardem sementes para o replantio, bem como
aumentar o prazo de vigência dos direitos de propriedade intelectual
para as empresas transnacionais que comercializem sementes híbridas e
transgênicas no Chile. (…)
O projeto de lei deverá entrar na pauta de votações do plenário do
Senado nos próximos dias, ocasião na qual as organizações prometem se
fazer presentes novamente para manifestar sua oposição. (…)
Contexto Libre (Chile), 19/08/2013.
Mais informações:
- Cofundador de Chile sin Transgénicos explica alcances de la ley Monsanto y riesgos de transgénicos – biobiochile.cl, 20/08/2013.
- Marchas en Chile contra aprobación de ‘Ley Monsanto’, favorable a los transgénicos - LibreRed, 18/08/2013.
- Chile fights GMO in national protest against ‘Monsanto law’ (PHOTOS, VIDEO) – rt.com, 18/058/2013.
3. Novo campo experimental de trigo transgênico na Austrália
A Secretaria de Agricultura do estado de Victoria, na Austrália,
pretende conduzir o maior campo experimental de trigo transgênico do
estado. Mas um recente caso de contaminação de trigo por transgênicos nos EUA, que derrubou as exportações do cereal, deixou a indústria de alimentos orgânicos preocupada.
Há poucos meses, plantas de trigo transgênico foram encontradas na
plantação de um agricultor do estado de Oregon, nos EUA. Como resultado,
o Japão e a Coreia cancelaram a importação do produto.
Está em curso uma investigação para identificar como o trigo
transgênico, cuja comercialização não é autorizada em nenhum país do
mundo, foi parar na propriedade. (…)
Para Scott Kinnear, diretor da Fundação Safe Food (Comida
Segura), da Austrália, o exemplo da contaminação em Oregon, assim como
outros no passado, servem de aviso: “ficamos muito preocupados com o
plantio de trigo transgênico a céu aberto. Achamos que os campos
experimentais na Austrália deveriam ser suspensos enquanto não for
realizada uma avaliação sobre se os mercados querem esse produto e
enquanto não sejam desenvolvidos procedimentos que possam de fato
garantir que o pólen transgênico não possa escapar”.
Se aprovado, este será o 15º campo experimental de trigo transgênico implantado na Austrália desde 2005.
ABC Rural, 15/08/2013.
N.E.: A indústria de biotecnologia não logrou
introduzir o trigo transgênico no mercado, sequer nos EUA, em razão da
forte resistência da opinião pública – mesmo dos grandes produtores, que
temem perder mercados de exportação. Atualmente a indústria investe na Austrália buscando criar uma porta de entrada para a comercialização do cereal modificado.
A alternativa agroecológica
Reforma agrária e garantia das terras dos povos tradicionais são
fundamentais para a agroecologia – entrevista com Denis Monteiro,
Secretário Executivo da ANA
Por Ednubia Ghisi
O primeiro Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Planapo em breve estará em vigor no Brasil, implementando a Política Nacional de Agroecologia, definida pelo Decreto 7.794, de 2012.
Para além do período de discussões entre movimentos sociais,
organizações e representantes do governo federal, que durou mais de um
ano, o Plano é resultado da luta histórica de movimentos contra o modelo
do agronegócio, os transgênicos e agrotóxicos.
Em entrevista concedida durante a 12ª Jornada de Agroecologia do
Paraná, Denis Monteiro, secretário executivo da Articulação Nacional de
Agroecologia – ANA, aponta avanços e limites do Plano.
A garantia do acesso à terra e ao garantia dos direitos territoriais
está entre os pontos fracos do Planapo: “As ações do Plano também são
muito tímidas no que diz respeito à garantia dos direitos territoriais.
Essa é uma questão que a gente vai reiteradamente colocar em todos os
momentos de mobilização e de articulação com o governo federal”.
Confira a entrevista:
A questão do financiamento tem sido uma das grandes
dificuldades para a produção agroecológica e familiar. O que o Plano
prevê para mudar essa lógica de financiamento volta ao agronegócio?
Esse é um dos principais desafios do plano, porque ele prevê o
financiamento para a transição agroecológica, mas a gente sabe que toda a
lógica de funcionamento dos financiamentos é para atrelar a agricultura
familiar aos complexos agroindustriais. Então a proposta de
financiamento foi construída assim e vem permanecendo dessa forma, induz
que o agricultor compre a semente hibrida ou transgênica, o adubo
químico e o agrotóxico. É preciso reverter essa lógica para que o
financiamento seja capaz de estruturar as unidades produtivas dos
agricultores, capaz de financiar o uso da semente crioula, os insumos
para a agricultura orgânica e não os adubos químicos, de pensar um
sistema diversificado e não uma só cultura para comercialização. É
preciso que haja mudanças importantes na política de financiamento para
que possa incorporar o enfoque agroecológico. Nós apresentamos para o
governo um conjunto de propostas nesse sentido, como a não exigência do
cadastro das variedades crioulas para que elas sejam financiadas e
seguradas, para que possa haver um financiamento das variedades
crioulas. Propomos também um bônus de adimplência, para que os
agricultores que estão no processo de transição agroecológica,
diversificando sua produção, usando tecnologias agroecológicas, possam
ter um bônus de adimplência quando foram pagar esse crédito. Ou seja, o
estado financiar e incentivar a produção agroecológica.
Quais as dificuldades para implementar essas propostas?
Temos encontrado pouco espaço no Ministério do Desenvolvimento
Agrário para que essa discussão seja feita, ou seja, para que o
financiamento seja adequado ao enfoque agroecológico. E gente espera que
com a instituição do Plano tenhamos mais espaço. Fora isso tem um
conjunto de ações para apoio diretamente à produção. Tem a perspectiva
de da criação de um programa com a participação do BNDS, da Fundação
Banco do Brasil e outros ministérios, de fortalecimentos das redes
locais de agroecologia. Temos conversado com o governo de que esse
programa deve apoiar essas organizações, porque são elas que atuam
diretamente promovendo a agroecologia no nível local. E também tem esses
recursos do BNDS e outros que podem apoiar esse processo de
experimentação dos agricultores, implantação de tecnologias
agroecológicas nas unidades produtivas, apoio também à agroindústria e à
comercialização. Isso tudo está contemplado no Plano e, se for efetivo,
a gente vai ter um avanço significativo no aumento da escala da
agroecologia. Ou seja, famílias que já estão no processo de transição
agroecológica, diversificando mais sua produção, e outras famílias que
hoje estão vinculadas ao pacote convencional ou no sistema tradicional
de baixo uso de insumos, poderão trabalhar a transição agroecológica e
vamos ter daqui a três anos um avanço significativo.
Também existe a proposta de incentivo à produção orgânica voltadas especialmente aos jovens do campo.
Tem algumas ações voltadas para formação em agroecologia que dão
apoio para cursos de nível médio, escola família agrícola e outras
iniciativas de formação no campo, para incorporar a agroecologia nesse
tipo de formação. Tem recursos que vão ser destinados para isso e a
gente acha que pode ser um ponto que se fortaleça. E outro eixo de ação é
apoio diretamente aos grupos de jovens que trabalham diretamente com a
produção agroecológica. Ou seja, é um incentivo para que grupos de
jovens das comunidades aumentem e diversifiquem a sua produção e possam
acessar mercados. É um contingente pequeno, nesse caso dos grupos
produtivos. O Plano prevê apoiar diretamente 15 mil jovens, então
sabemos que é um contingente muito pequeno frente à demanda que existe e
ao desafio da realidade da juventude no meio rural, mas se essas ações
foram efetivadas, já teremos um avanço. E tem tido uma participação
muito importante na construção dessas ações os movimentos de juventude, a
Pastoral da Juventude Rural e outros movimentos que têm pressionado e
apresentado propostas nesse sentido. A Secretaria Nacional da Juventude,
vinculada a Secretaria Geral da Presidência, também tem sido bastante
sensível e ativa na produção dessas propostas.
Como você avalia a posição do governo federal quando se afirma a necessidade da reforma agrária para o avanço da agroecologia?
O que a gente disse, desde antes de entrarmos na discussão da
política do Plano, é que a questão agrária e a garantia dos direitos
territoriais das populações tradicionais, das terras quilombolas,
indígenas, dos geraizeiros, faxinalenses, das quebradeiras de coco
babaçu são fundamentais para a agroecologia. Não dá pra imaginar de
avançar numa política de agroecologia com essa estrutura fundiária
altamente concentrada que a gente tem no Brasil hoje, ou com as
populações tradicionais muito inseguras com relação ao acesso à terra,
sempre ameaçadas de perder suas terras. A questão do cumprimento da
função social da terra, da garantia dos direitos territoriais das
populações tradicionais, é absolutamente fundamental. Disso nós não
vamos abrir mão e vamos cobrar sempre que essa questão seja recolocada
na discussão. O que a gente percebeu, inclusive na própria construção da
política, é que esse pacto de economia política do agronegócio
interdita a discussão da questão agrária e da reforma agrária. Porque ao
agronegócio interessa avançar sob os territórios das populações
tradicionais. Ao agronegócio não interessa a realização da reforma
agrária, porque significa perder território para uma outra lógica de
produção, uma lógica camponesa. Esse debate foi um pouco interditado. A
própria política que nós propusemos, de que houvesse claramente uma
diretriz colocando essa questão da função social da terra e dos direitos
territoriais dos povos e comunidades tradicionais, não foi contemplada.
As ações do Plano também são muito tímidas no que diz respeito à
garantia dos direitos territoriais. Essa é uma questão que a gente vai
reiteradamente colocar em todos os momentos de mobilização e de
articulação com o governo federal, da importância da questão agrária
como um todo.
Sobre a proposta de criação da Agência Nacional de Assistência
Técnica de Extensão Rural – ANATER, como impacta a agricultura familiar e
camponesa?
Hoje nós vivemos o risco da implantação de uma Agência Nacional de
Assistência Técnica de Extensão Rural, a ANATER, que pode significar um
retrocesso, da forma como está sendo conduzida pelo governo, e como o
debate está sendo feito no congresso. Nós hoje temos uma lei de ATER,
que garante exclusividade da agricultura familiar para ATER pública.
ATER pública é para agricultura familiar, mas essa exclusividade não
está sendo considerada na discussão da Agência Nacional, assim como a
agroecologia não está sendo orientadora. A lógica que orienta a criação
dessa Agência é a da difusão de tecnologias, e a gente sabe que as
tecnologias que estão na Embrapa, que também estão sendo discutidas na
ANATER, são para difundir um pacote tecnológico da revolução verde junto
à agricultura familiar. Não é isso que a gente quer. A ANATER também
prevê um papel protagonista e consultivo para setores da agricultura
patronal, como, por exemplo, a Confederação Nacional da Agricultura e da
Pecuária, que não tem nada o que dizer com relação à política de ATER
para agricultura familiar. Quem tem a dizer sobre ATER são as
organizações dos agricultores familiares, organizações camponesas, as
organizações que prestam assessoria, cooperativas, e os próprios órgãos
que hoje estão lidando com ATER, como o Ministério do Desenvolvimento
Agrário e o INCRA. Esse é o ambiente que tem discutido ATER para
agricultura familiar. São essas organizações que precisam ter o
protagonismo dessa discussão. Então nós queremos que o debate sobre a
criação da agência seja reaberto. Até agora não foi um debate em que as
posições do campo democrático popular puderem ser colocadas
suficientemente. A gente quer a abertura desse debate porque, se uma
ATER contrariar os princípios da própria Política Nacional de
Agroecologia, vai ser uma contradição bastante arriscada para que a
política seja efetiva.
Como está a relação entre estado, movimentos sociais e organizações para o avanço no modelo agroecológico de agricultura?
Nós colocamos desde o início para o governo, nessa construção do
Plano, que não é possível avançar na agroecologia sem o protagonismo das
organizações da sociedade civil. São essas organizações, de assessoria,
organizações dos agricultores, associações, que vêm historicamente
promovendo a agroecologia, quando o estado ainda nem falava disso,
quando as políticas públicas vinham na contramão da agroecologia. Para
avançar numa política de agroecologia, é preciso o garantir protagonismo
dessas organizações e viabilizar que tenham liberdade para executar
políticas públicas, para agir politicamente. A gente não vê sinalização
do governo brasileiro de que vai rever a forma como hoje faz a relação
entre estado e sociedade. Há um processo de criminalização da sociedade
civil, inclusive em relação ao acesso a recursos. Foi uma promessa da
presidenta Dilma rever o marco legal que regula a relação sociedade e
estado no que diz respeito a recursos públicos, isso até agora não foi
feito, não há sinalização do governo de que vai se avançar nesse campo. E
se a gente não tiver avanço nesse campo, não vamos avançar na
agroecologia.
Terra de Direitos – via ANA.]
via boletim as-pta
O Que Mantém os Jogadores Engajados nos Jogos de Cassino?
-
Plataformas digitais utilizam tecnologias avançadas e design estratégico
para replicar e aprimorar o ambiente imersivo dos cassinos físicos
Há 23 horas
2 comentários:
Pois é, Glenn, o site tem muita informação interessante, mas sempre que o assunto é transgênico o que a gente vê é um copia-cola da AS-PTA e outros sites contra a biotecnologia. Aí o Sinantrópica em nada contribui para a discussão.
A AS-PTAvende a ideia de que a CTNBio é uma comissão vendida ao capital e que os pesquisadores e professores que lá sentam ou não tem caráter ou são tolos. Não é nada disso, evidentemente. Se, um dia, você quiser se aprofundar sobre esta temática, terei grande prazer em lhe encaminhar materia e links e em discutir as questões que lhe saírem da cabeça após esta leitura.
Atenciosamente,
Paulo Paes de Andrade
Ex-membro da CTNBio (2006-2012)
andrade@ufpe.br
Olá Paulo.
Ultimamente não tenho tido tempo pra elaborar posts de minha própria autoria no sinantrópica, o que é completamente lamentável.
Tenho copiado e colado várias informações que acho interessante, principalmente pra posteriores consultas.
Eu pessoalmente não sou contra toda atransgenia, mas sou frontalmente contra o uso desta tecnologia em ambientes que não sejam isolados.
Acho que o uso de OGMs em ambientes abertos como são os agroecossistemas uma enorme irresponssabilidade.
Há controvérsias quanto a segurança destes organismos e prezar pelo princípio da precaução seria totalmente sensato. Princípio aliás que o Brasil concorda ao ser signatário do protocolo de Cartagena.
Fico feliz pela abertura ao debate.
Mas discordo de sua colocação quanto a CTNBio. É sabido da existência de uma minoria muito corajosa dentro dessa comissão, donde acho que o Leonardo Melgarejo é um dos que mais admiro.
Basear uma tecnologia dessas no princípio da equivalência substancial por exemplo acho um erro muito primário. Difundir informações de que a transgenia poderia acabar a fome do mundo apenas repete um discurso anacrônico e inverossímil da revolução verde.
No Brasil 3/4 das plantas GMs são resistentes a herbicida(HT) que nada tem a ver com maior produtividade, exceto pela noção simplista e reducionista de que apenas eliminar "ervas daninhas" vá aumentar a produtividade.
Num país megabiodiverso como o nosso é vergonhoso que as monoculturas tomem conta de tanta terra.
Sistema esse que por questões fitossanitárias óbvias, é dependente de insumos artificiais externos.
Replicamos isso desde as plantations do Brasil-colônia.
Existem tecnologias muito boas, que regeneram o meio ambiente, para produção alimentar, respeitando os padrões naturais que há tanto tempo seguimos.
Em nenhum aspecto vejo as PGMs como boas, a não ser que seja pra produzir algum produto a partir de seu metabolismo e dentro de um laboratório fechado, o que não é a regra.
Aqueles que promovem a biologia sintética enxergam apenas essas tecnologias como salvação do mundo quando na verdade são os próprios propulsores de nossa decadência, da contaminação biológica e química sem precedentes.
Fiquei curioso com as leituras sugeridas. Estou totalmente aberto pra discutirmos esses materiais.
Replicarei o comentário por email e se preferir podemos seguir em PVT, ou por aqui mesmo.
abraços
glenn
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