9 de dezembro de 2009

mata ciliar

"povo que vota nas coxas toma na bunda."
andré dahmer, cartunista

você sabe o que é mata ciliar?
segundo a legislação brasileira, mata ciliar é a vegetação que margeia cursos d'água.
o crescimento de uma vegetação aumenta a capacidade de escoamento de águas pluviais e fluviais; a emissão de raízes reduz as erosões, dentre outras vantagens que uma vegetação pode trazer em comparação ao solo nu ou impermeabilizado.

no lugar da mata ciliar dos cursos d'água da paulicéia temos asfalto.
o asfalto, por sua vez, não é lá um material muito apropriado para absorver as águas.
numa cidade como esta é fácil perceber o estrago o que o asfalto em detrimento de uma mata ciliar causa. uma vez que a água não tem como entrar no solo rapidamente podemos imediatamente perceber as enchentes. em médio prazo há eventos bem menos explícitos (e mais nocivos) tais como o reabastecimento insuficiente dos lençóis freáticos, formação de enxurradas e processos erosivos diversos.

se sua memória é uma merda porcaria, aqui vão algumas cenas de ontem na cidade.



o código florestal (lei nº 4771/65) faz algumas considerações interessantes a respeito da mata ciliar:
Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:
(...)2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; (...) [segundo vi no google maps, as marginais pinheiros e tietê têm, respectivamente, cerca 20 e 50 metros de largura, enquadrando-se nesta categoria]
isto quer dizer que se fosse para manter a vegetação conforme este artigo do código florestal, deveria haver uma mata ciliar nas marginais de largura mínima de 50 m, o que seria maravilhoso e não haveriam enchentes nestas proporções. porém, um pouco mais adiante, ainda no código florestal:
Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.
como tudo que é da burocracia pública eles nos mandam de um lado ao outro... pois bem, o plano diretor estratégico do município de são paulo tem diversas partes muito interessantes ao caso. infelizmente vou deixar esta parte da análise para o próximo post, para que este post não se torne obsoleto demais em relação à enchente de ontem.

as chuvas de fim de ano coincidem com as diversas obras que o governo está fazendo na cidade. muitos com ar eleitoreiro, onde quer que v. ande nesta cidade se deparará com obras que apenas estorvam a vida do cidadão comum.

o dinheiro mal gasto do governo traz diversos prejuízos diretos e indiretos: cerca de 100 pontos de alagamentos que impediam que as pessoas se movessem de suas residências aos locais de trabalho, cerca de 10 pessoas mortas, espalhamento de doenças e sujeira, paralisação de transporte público e privado, 70t de melancias perdidas no ceagesp, dentre tantos outros prejuízos mensuráveis ou não que ocorreram e que, sem dúvidas e infelizmente, continuarão a ocorrer.

ainda ontem pela manhã o prefeito do DEMO, kassab, disse isso aqui:



me mata de vergonha.

a solução, ou melhor, a forma para minimizar os danos seria a de implantar parques e outras áreas verdes ao longo dos cursos d'água para dar uma chance de que as águas escoem por solos que tenham tal capacidade, e não que corram pelos asfaltos, levando vidas consigo (estes que apenas viram estatísticas e não soluções).

é isso aí, votam nas coxas, tomamos na bunda.

pra rir pra não chorar, leia mais sobre o caos de ontem aqui e aqui

6 comentários:

Alexandre disse...

então....
são paulo é um cimentão total mesmo.
sem chance de escoamento.
alguns pontos e dúvidas.
acho que as pessoas deveriam ter espaço livre (sem azulejos e afins) em suas casas. todos querem um quintal limpo de folhinhas e terras então inviabilizam isso.
outra....
quanto ao código que fala da mata ciliar. ele diz que tem que se preservar a mata ao longo dos rios de porte tal e pá. mas não percebi nele, glenn, algo falando que é obrigado a ter. como nunca teve mata ciliar do tietê (creio que pelo menos desde a época em que essa lei foi criada), vejo que não é um caso de lei descumprida. não estou defendendo o diabo. só acho que houve uma má interpretação da lei. me corrija se eu estiver errado por favor.
e sim....demo kassab me mata de vergonha. affffff....
por essas e outras trabalho em educação.
gostei do post. só gostaria que me tirasse aquela dúvida.
weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

Alexandre disse...

ah....digo mais.
rio claro está indo pelo mesmo caminho. é o progresso meu.
não é lindo?
weeeeeeeeeeeeeeeeeee

glenn makuta disse...

ae sanguito, eu pensei a mesma coisa, mas ao ler o parágrafo único que coloquei na sequencia (que fala dessa mata em área urbanizada) acaba tirando, no meu entender, a obrigatoriedade dessa vegetação em cidades, ficando a regulamentação de mata ciliar em são paulo a mercê da legislação municipal.

sabia que em kamakura, uma cidade no entorno de tokyo, é obrigatório que cada casa tenha uma certa % do terreno como jardim? além disso lá é cheio de templos budistas, que sempre têm jardins fantásticos (ao contrário dos templos cristãos)... ou seja, a vegetação é muito mais valorizada dentro da cidade.

acho que no fundo é uma questão de valores, afinal somos os animais da natureza caracterizados (dentre algumas outras coisas) pela moral.

e infelizmente este é o nosso parâmetro de progresso.

weee

glenn makuta disse...

só mais uma coisa, DEMO são os democratas, antigamente conhecidos como partido da frente liberal (PFL)

Alexandre disse...

DEMo....ok....rs.
sabia do DEM mas não tinha ligado uma coisa com a outra....hauehaeuaheuaeheaueha.
da hora.
weeeeeeeeeeeeeeeeee

ligia disse...

mais do que não ter mata ciliar, o tietê no pedaço paulistano é um rio com leito cimentado!
pois é! a lei não obriga que tenha mata ciliar em trechos urbanos, não é, de fato, um caso de ilegalidade, mas de justificativa... não tem mata, não tem escoamento. que vc espera? que a água da chuva simplesmente desapareça? pra algum lugar ela tem que ir!
mas e agora que podemos fazer já que tá tudo zuado? negar o problema não resolve nada, pelo contrário, é dar tiro no próprio pé... eu me impressiono com a falta de jogo de cintura que teve o prefeito! é muita burrice!

chuvas desmedidas, garoas juninas no meio de dezembro, mortes, desabrigados, doenças... coitada da natureza! tão indefesa...